Filósofo | Escritor | Psicoterapeuta | Criador da autoescrita

Meu percurso

É engraçado pensar de onde começar o tal “como eu cheguei até aqui…” Quando eu me formei em filosofia, há quase 20 anos, eu não imaginava que aquilo pudesse dar em uma profissão. Hoje, eu entendo que parte fundamental da minha função no mundo é buscar ferramentas para entender a vida. Já durante o curso, eu tive muitas crises com a filosofia. O que eu pensava era o seguinte: mas como isso pode me ajudar a pensar a vida? Que era a razão pela qual eu tinha ido parar ali.

Não por acaso, a tese fundamental da minha monografia de conclusão de curso era de que o frio na barriga era uma ferramenta melhor para entender a vida do que qualquer conceito filosófico. E, ironicamente, o único autor que eu citava era ninguém menos que o nosso amigo Freud. Eu estava convencido que eu tinha que ir atrás da vida para entender a vida. E resolvi, depois de ter feito uma entrevista com o documentarista Eduardo Coutinho, que eu também queria fazer documentários da vida.

E de fato eu fiz. Só um. Pelo menos por enquanto. O título era “Só minha hora Deus sabe”. E era, é claro, uma série de entrevistas sobre o sentido da vida. Eu morava em Brasília ainda nesta época. E eu decidi vir para o Rio de Janeiro para montar o meu documentário. Isso foi em 2005. Meu pai tinha acabado de morrer e eu não imaginava que eu ia passar a enfrentar, com a mudança de cidade, uma sequência de crises de pânico. Eu já fazia análise nessa época, desde os meus 14 anos, a primeira época que eu senti que poderia enlouquecer na vida, mas eu decidi que mais importante do que entender os meus processos mentais poderia ser experimentar meu corpo. E eu decidi fazer teatro. E foi isso que eu fiz por mais ou menos 10 anos. Em algum lugar em mim, eu ainda sinto que eu faço teatro. Às vezes ainda sonho com o palco. É aquela coisa: você sai do teatro, mas o teatro não sai de você. Eu comecei como ator, mas eu era péssimo. O pior ator da sala, era o que dizia o professor. Eu tentei o teatro físico, fui clown por um tempo, mas logo eu entendi que eu poderia escrever peças. Eu escrevi algo como 20 peças. Dirigi algumas delas e atuei em algumas poucas.

Mas a minha questão acabou voltando, só que agora com o teatro: como é que isso serve para pensar a vida? Acabei transformando o meu trabalho com o teatro em uma série de experiências para tentar me aproximar do que me interessava. E isso gerou coisas muito legais, como uma peça na qual eu entrevistava um por um dos espectadores perguntando sobre a vida deles para construir a dramaturgia do espetáculo. Ou uma peça baseada em diários de pessoas “comuns” Mas foi a minha última experiência com o teatro que me trouxe até aqui. Eu resolvi que eu queria fazer um Hamlet que tivesse como base a pesquisa dos afetos dessa personagem, por assim dizer: o que é que ele sente naquele percurso dele? Eu fiz essa peça em mais de trinta cidades pelo Brasil. Era eu mesmo no palco, sozinho, e as pessoas na platéia que podiam me interromper quando quisessem para fazer perguntas ou propor compreensões possíveis sobre esse percurso afetivo. Depois desse processo de pesquisa, o caminho para a autoescrita estava aberto, com uma pergunta básica: por que é que a gente sente como sente? A partir daí, o caminho seguiu de forma natural pelos meus estudos em psicanálise, o meu encontro com a neuropsicanálise – disciplina que articula a psicanálise e a neurociência afetiva – até a criação da autoescrita e o meu trabalho como psicoterapeuta.